Eu diria, ABUTRES

Inquisidores

*Publicado no "Destak" de Sexta Feira, 7 de Maio de 2010

por J.L. Pio Abreu, Psiquiatra e Prof. Universitário:



Nalguns lagos da Europa, durante a Idade Média, quando uma mulher era suspeita de ter um pacto com o diabo, atiravam-na à água. Se flutuasse, era culpada e sentenciada. Se fosse ao fundo, coitada, era inocente. Aliás, a inquisição sempre funcionou assim. Os acusados eram torturados até à morte, ou até se considerarem culpados. Neste caso, cessava a tortura e celebrava-se a execução.
Os inquisidores, apoiados pelo público que apreciava o espectáculo, convenciam-se de que estavam a fazer um trabalho meritório. Eles eram feitos da mesma massa que nós, e não tenho dúvidas de que, se olharemos à nossa volta, encontraremos pessoas dispostas a desempenhar o mesmo papel.
Aliás, nem é preciso olhar à volta, basta ligar a televisão. Os nossos parlamentares, transformados em comissão de inquérito, dão-nos uma imagem do que poderia ser a inquisição moderna. Os seus objectivos - descobrir quem sabia de um negócio que não chegou a existir - são tão imaginários como os pactos com o diabo. Os seus métodos, com desprezo pelo contraditório, servem apenas para justificar as suspeições.

Além disso, boa parte do público aplaude. De facto, ele sente-se aliviado porque pode dirigir a sua zanga contra os bodes expiatórios apresentados como responsáveis por todas os males. A única coisa que falta é o espectáculo da fogueira. Não porque muitos o não desejassem. O problema é que a notícia correria mundo, e o mundo civilizado não deixaria que isso acontecesse na Europa de hoje.
Eis a opinião de quem sabe, sobre o objecto desta Comissão Parlamentar de Inquérito
Não sei o que deu nos nossos parlamentares, mas estão no seu direito; não se queixem, é depois, das consequencias políticas, pela criação de umas quantas CPIs, sobre outros tantos casos, visando sempre a mesma pessoa.
E desde que começaram a inquirir, nada se passou a não ser  as maquinações nas suas mentes torpes que só vêem fantasmas.
É doentio, meus senhores.
Os Psiquiatras deste pobre País terão num futuro próximo, trabalho de sobra, à conta dos senhores deputados da Nação.
As pessoas quando começam a ver fantasmas só têm de procurar ajuda; os exageros não podem ser pagos por todos nós.
Não posso dar um tiro ao primeiro que me diga que estou a mentir. Por outro lado, não podemos afirmar a ninguém, que nunca mentimos na vida; valorizemos o que realmente tem valor.
Mentirosos, somos todos nós, uns mais, outros menos; mas ninguém, nem mesmo o PM se pode gabar de nunca ter mentido.
Comparemos:
Quem pode ser considerado pessoa de bem?
O autor  de uma mentira sem consequências ou o inquiridor que, por via disso mesmo, gasta ao desbarato o dinheiro que nos custa tanto a ganhar, para descobrir a careca a quem mentiu, e na pior das hipóteses, nem sequer o fez?
Recomendo um pouco de juízo e mais respeito pelos Portugueses, Senhores deputados .

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